NOTA EXPLICATIVA
A sucessão em empresas familiares:
erros e acertos
Por: Carlos Alberto Ercolin
No primeiro artigo desta série
abordamos a governança corporativa, como um todo. Agora, como mencionado
anteriormente, passaremos a tratar de assuntos mais específicos. Neste artigo
resumiremos um dos motivos que podem levar uma empresa familiar à falência ou
alavancar seu crescimento, a depender de como se o encara: a tão temida
sucessão do fundador!
As estatísticas mundiais confirmam o
caso brasileiro: de cada 100 novas empresas, menos de 15 (ou 15%) chegarão à
terceira geração (notem que estamos falando de uma mortalidade de 85% em duas
gerações...). E porque isso acontece, mesmo sabendo que se repete a cada ano, a
cada década, e assim por diante?
Vamos a alguns erros e acertos que
temos vivenciado nestes mais de 15 anos atuando como consultor na área:
Erros:
·
O fundador não reconhece sua data de validade – por mais dura que possa parecer
esta frase ela é verdade para todos nós, inclusive o fundador que se acha
insubstituível (como dizia meu falecido pai: o cemitério está repleto de gente
que se julgava insubstituível -e o mundo continua girando...). Ao admitir que
temos data de validade (com nosso trabalho e experiência) não estamos
reconhecendo nosso fracasso (se isso fosse verdade a empresa já teria falido);
apenas estamos dizendo: “olha até onde trouxe a empresa; agora é com vocês....
continuem meu bom trabalho!”
·
O fundador não reconhece sua finitude. Pois é, todos morremos um dia. Que tal reconhecer
este fato e já ir pensando numa sucessão planejada? A alternativa (sucessão mal
planejada, ou às pressas) nos deixou muitos maus exemplos...
· Confundir herdeiro com sucessor. Todos seus filhos são seus herdeiros, por lei. Agora, sucessor, talvez nenhum deles o seja, já pensou nisso? Não adianta forçar a barra para escolher um dentre eles (talvez nenhum deles esteja à altura do novo desafio; talvez eles nem queiram tal desafio...).
·
Escolher para sucessor o filho mais parecido com o fundador. Outro erro muito comum é pensar:
dentre meus filhos qual o que mais se parece comigo? Ele é o meu sucessor
ideal..... Onde está a o erro? O erro está em pensar que as competências que
trouxeram a empresa até este patamar de sucesso (as competências do fundador)
são as mesmas que a levarão para o próximo patamar... Ledo engano. O mundo
mudou e continua mudando, a cada segundo. As competências que o fundador tem
fizeram que a empresa chegasse onde está, mas daqui para frente, talvez outras
novas sejam necessárias. Pense nisso!
Acertos:
· · Reconhecer a data de validade do fundador. Ao considerar que temos data de validade simplesmente admitimos que o que sabemos trouxe a empresa até este patamar (o que já é uma tremenda vitória), mas daqui para frente novas competências serão necessárias. Este é um exercício de humildade!
· · Reconhecer a finitude do fundador. Sabemos que este não é um assunto fácil de ser tratado entre pais e filhos (pois implica em dizer: eu vou morrer...); talvez uma ajuda de profissional externo se faça necessária, mas é importante nos prevenirmos e o quanto antes começarmos este processo mais profissional ele será e com menos traumas para todos.
· · Não confundir herdeiro com sucessor. Temos de
admitir que talvez não tenhamos, dentre nossos herdeiros, algum sucessor. Não
adianta forçar ou improvisar (afinal é o patrimônio da família que está em
jogo: a empresa). Devemos fazer o assessment
de todos os profissionais da empresa (familiares ou não) e se não encontrarmos
o perfil ideal para o cargo, temos de ter a humildade e a coragem de buscarmos
este profissional no mercado.
Queremos fechar este rápido post reiterando que não tivemos a ousadia ou a pretensão de esgotar o tema neste pequeno espaço.
Carlos Alberto Ercolin é professor de vários programas de
pós-graduação (Brasil, Argentina e Caribe). Coautor do livro de Governança
Corporativa do FGV Management (onde também é professor desde 2007).
Professor nos cursos do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e coordenador do Capítulo PR.
Consultor e conselheiro (Consultivo, de Administração e Fiscal) de várias empresas familiares e de capital aberto. É Conselheiro Fiscal Certificado pelo IBGC (atua em empresa listada no Novo Mercado, mais alto nível de governança de empresas de capital aberto no Brasil).
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