NOTA EXPLICATIVA
Governança Corporativa para todos: verdades e mitos
Por: Carlos Alberto Ercolin
A governança como a conhecemos
ressurgiu na década de 90, após a constatação, pelos acionistas, que os
conselhos de administração não eram tão atuantes e algumas auditorias externas
eram omissas. Então ocorreu o que se denominou ativismo societário (ou seja: os
donos -acionistas ou cotistas - retomaram as rédeas de suas organizações e
redefiniram alguns papeis e responsabilidades, dentre os quais o dever de
diligência - é o que se espera dos administradores, como conselheiros e
diretores: que sejam diligentes, ou seja: que ajam nas empresas para as quais
prestam serviços, com o mesmo zelo e cuidado que teriam caso a empresa fosse
sua; simples assim.
Mas a governança traz em si alguns mitos:
1) A empresa que adere às boas práticas de governança corporativa nunca se verá envolvida em escândalos éticos ou mesmo crimes. A operação denominada lava-jato comprova o contrário: a maioria das empresas citadas nesta operação possui conselho de administração, auditoria externa, código de conduta,...
2) As práticas de governança corporativa se destinam às grandes empresas, ou mais especificamente às empresas de capital aberto. A governança veio para ficar (há quem diga que a governança é o tema do século XXI). Não importa a idade da empresa ou mesmo seu faturamento. É lógico que uma organização multinacional provavelmente terá um sistema de governança mais completo (e mais custoso) que o de uma similar, nacional, com faturamento muito menor; mas ambas ganharão com a aplicação de suas práticas.
3) Todas as empresas devem ter a mesma estrutura de governança. É claro que cada caso é um caso e estruturas mais complexas e onerosas vão ser determinadas a partir da maior complexidade dos negócios e operações.
4) A governança custa caro. É fácil constatar que caso se queira implantar um conselho de administração com “conselheiros-celebridades” isto vai custar caro (e nem sempre vai trazer os resultados almejados), mas se pode iniciar com um conselho enxuto, com as práticas mais adequadas ao seu porte e ambição (por exemplo: o sistema de governança para uma empresa familiar é diferente - e muito mais barato - daquele de uma empresa que quer abrir seu capital ou atrair novos investidores).
Verdades:
2) A governança corporativa agrega valor ao negócio. Sem sombra de dúvida. Os parceiros comerciais, os bancos e até mesmo os funcionários buscam trabalhar com empresas em que se sintam bem, fazendo a coisa certa. Inúmeros estudos comprovam que as empresas que são reconhecidas como praticantes da governança corporativa atraem melhores parceiros, em condições comerciais mais vantajosas e até obtém uma melhor classificação de risco (rating) juntos aos seus bancos. O resultado disso são custos menores e margens maiores, resultando em maior valor para a organização.
Nos próximos posts abordaremos
temas mais específicos, como governança corporativa para empresas familiares,
sucessão,....
Carlos Alberto Ercolin é professor de vários programas de pós graduação (Brasil, Argentina e Caribe). Coautor do livro de Governança Corporativa do FGV Management (onde também é professor desde 2007).
Professor nos cursos do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e coordenador do Capítulo PR.
Consultor e Conselheiro (Consultivo, de Administração e Fiscal) de várias empresas familiares e de capital aberto. É Conselheiro Fiscal Certificado pelo IBGC (atua em empresa listada no Novo Mercado, mais alto nível de governança de empresas de capital aberto no Brasil).